quinta-feira, 26 de março de 2009

Drama Noturno




Estou ilustrando a entrada de hoje com um texto de Veríssimo, porque pra mim, ele sempre acerta em cheio nas peculiaridades da vida, e neste caso, do casamento. Pra não criar alarde aviso que no meu casamento não voaram objetos e não pretendemos que voem nunca.

"A tese da mãe da Julinha é a seguinte: qualquer casamento pode ser salvo até começarem a voar objetos. Um casamento sobrevive a tudo, menos ao açucareiro na cabeça. E a mãe da Julinha é contra a tese segundo a qual, se um casamento dá certo na cama, o resto se arranja. Ela acha que é justamente o contrário. Foi o que disse para a Julinha quando a filha anunciou que ia se casar com o Torres duas semanas depois de conhecê-lo.

- É uma loucura! Vocês não sabem nada um do outro.

- No que interessa, já nos conhecemos até demais.

Se dependesse da Julinha, nem haveria casamento. Mas a mãe insistiu. Não fazia questão de véu e grinalda, mas alguma cerimônia tinha que haver, nem que fosse só para terem o que fotografar.

- Se seu pai não usar gravata prateada, morre - foi o argumento da mãe para convencer a filha única.

A Julinha cedeu. Aceitou a cerimônia civil, as famílias reunidas, os salgadinhos, os bolos, as fotos, a gravata prateada do pai, tudo. Mesmo porque 15 minutos depois de assinarem os papéis, ela e o Torres já estavam no hotel, inaugurando oficialmente a lua-de-mel, antes de viajarem para Cancún.

Os problemas começaram no dia seguinte.

Ao meio-dia, Julinha apareceu em casa de surpresa. A mãe levou um susto.

- Vocês não viajaram?

- Ele raspa a manteiga, mamãe.

- O quê?

- Descobri hoje no café da manhã. No hotel. Ainda bem que eles serviram a manteiga em tablete. Senão eu só ia descobrir depois.

- Minha filha, eu não estou…

- Ele raspa a manteiga! Não corta em segmentos, como eu. Como é normal, como é o certo. Raspa por cima. E outra coisa…

- O quê?

- A pasta de dente. Aperta no meio. Não começa a apertar por baixo. Aperta em qualquer lugar, mamãe. Eu não posso viver com um homem que aperta o tubo de pasta de dente no meio.

A mãe se sentiu justiçada. Tinha avisado, não tinha? Na cama, qualquer um se acerta. O problema era a mesa e o banho.

- Pode-se dar um jeito, minha filha. Seu pai cortava a ponta do queijo. Eu ensinei a cortar ao comprido.

- Não tem mais jeito, mamãe. Ele disse que é raspador e vai morrer raspador. E outra coisa…

- O quê?

- Já voaram objetos.

- Meu Deus.

- O casamento acabou.”


Agora, por que coloquei este texto aqui hoje? Bom, porque pastas de dentes e raspações de manteiga a parte (sim, o Luis enfia a faca no pote de margarina como se fosse uma colher, cavucando tudo de maneira horrenda) nossa discussão frequente diz respeito ao nosso comportamento quando nem estamos acordados. Explico. Mas pra isso um pouco da minha história.

Sempre fui uma pessoa de alta temperatura corporal, capaz de andar de shorts pela casa em manhãs frias de inverno, calçando nada mais que a sola dos meus pés e tomar banho de piscina enquanto um nevoeiro frio de Outono baixa sobre a água. Pessoas que convivem comigo dizem que exalo calor, que pareço um aquecedor mesmo. Sempre sinto calor como se vivesse em constante menopausa. Não sei se por isso mesmo ou simplesmente por ser esquisita nunca consegui dormir de cabeça tapada, ou com a cara pra baixo.

Minha posição comfortável pra dormir consiste em me posicionar de modo que minha cara fique virada pra fora da cama, com meu nariz completamente exposto as interpéries do meu quarto. Se me viro pro lado interno da cama, enfio a mão debaixo do travesseiro para elevar minha cabeça. Ou viro de barriga pra cima. Enfim, me mexo bastante, mas sempre em posição que me deixe livre.

Agora, pra quem nao sabe meu marido tem 1,94 m e se comporta como um urso, é espaçoso no seu dormir. E é friorento. Até no verão de 40 graus de Porto Rico, ou seja, ele gosta de vir buscar calor no meu lado da cama, jogando pernas e braços por cima de mim e eu, dos altos dos meus 1,64 m acabo dividindo espaço de tamanho semelhante ao ocupado pelo gato. Não que eu não goste de estar juntinho mas depois que adormeço não estou mais preocupada com atividades cerebrais inúteis como saber a distância corpórea entre dois corpos e meio (o gato) no plano físico: cama.

Obviamente isso me sufoca, pois não somente ele é pesado como também minha necessidade básica: elevação cabeça/nariz exposto, fica comprometida. E assim adormecemos, eu tentando escapar pra beirada da cama pra libertar minha cara, ele buscando o aquecedor portátil dele. E quando a manhã chega, eu acordo com uma perna e um braço caídos pra fora da cama, me equilibrando pra não desabar, meu marido esparramado no meio da cama e meu gato igual um paxá dormindo no meu travesseiro. Luis diz que a culpa é minha, pois eu mesma me coloco na borda da cama, mas ele não entende que eu tento me mover de volta pra assumir minhas outras posições liberadoras de nariz, mas quando o tento meu lado da cama já está ocupado por joelhos, braços, e rabos de gato.

É sempre uma comédia que nos faz rir muito pela situação, e que se repete noite após noite. A não ser quando acordo no meio da madrugada e expulso o gato e tento inutilmente empurrar o armário de marido que tenho pro seu lado original da cama. Pra quem não sabe dançar esse é um balé que deve ser digno de Vídeo Cassetada.




2 comentários:

Diana Bitten disse...

Ahauhauah Muito bom! (Você conseguiu o que queria ocm o post)

Adorei lê-lo e ri muito com a parte do nariz e do gato...

Dreu para visualizar a cena direitinho!

Ahauhauah Bravo!

Laura disse...

O lance do nariz é parte porque lembro de vc imitando meu jeito de dormir, levantando o nariz como uma maluca. rsrsrsrsrs